Todo guerreiro já ficou com medo de entrar em combate.
Todo guerreiro já perdeu a fé no futuro.
Todo guerreiro já trilhou um caminho que não era dele.
Todo guerreiro já sofreu por bobagens.
Todo guerreiro já achou que não era guerreiro.
Todo guerreiro já falhou em suas obrigações.
Todo guerreiro já disse "SIM" quando queria dizer "NÃO".
Todo guerreiro já feriu alguém que amava.
Por isso é um guerreiro; porque passou por estes desafios, e não perdeu a esperança de ser melhor do que era.

Paulo Coelho

domingo, 8 de janeiro de 2012

ॐFLORDELÓTUSAZUL


Arranjo em estrofes, do capítulo inicial de Iracema, sem acréscimo ou diminuição de uma vírgula, por Soares Feitosa



Verdes mares bravios de minha terra natal, 
onde canta a jandaia 
nas frondes da carnaúba; 
verdes mares, que brilhais 
como líquida esmeralda 
aos raios do sol nascente, 
perlongando as alvas praias 
ensombradas de coqueiros. 

Serenai, verdes mares e alisai 
docemente a vaga impetuosa, 
para que o barco do aventureiro 
manso resvale à flor das águas. 

Onde vai a afoita jangada, 
que deixa rápida 
a costa cearense, aberta 
ao fresco terral a grande vela? 


Além, 
muito além 
daquela serra que ainda azula 
no horizonte, nasceu 
Iracema. 

Iracema, 
a virgem 
dos lábios de mel, que tinha os cabelos 
mais negros 
que a asa da graúna 
e mais longos 
que seu talhe de palmeira. 

O favo do jati não era 
doce como seu sorriso; 
nem a baunilha recendia 
no bosque como seu hálito 
perfumado. 

Mais rápida que a ema 
selvagem, a morena virgem 
corria o sertão e as matas 
do Ipu, onde 
campeava sua guerreira tribo, 
da grande nação tabajara. 
O pé, grácil e nu, 
mal roçando, 
alisava 
apenas a verde pelúcia 
que vestia terra com as primeiras águas. 

Um dia, ao pino o sol, 
ela repousava em um claro 
da floresta. 
Banhava-lhe 
o corpo a sombra da oiticica, 
mais fresca do que o orvalho da noite. 

Os ramos da acácia silvestre 
esparziam flores sobre 
os úmidos cabelos. 

Escondidos na folhagem 
os pássaros 
ameigavam o canto. 

Iracema saiu do banho; o aljôfar 
d'água ainda a rorejava, 
como à doce mangaba que corou 
em manhã de chuva. 

Enquanto repousa, empluma 
das penas do gará as flechas 
de seu arco e concerta 
com o sabiá 
da mata 
pousado no galho próximo, 
o canto agreste. 

A graciosa ará, sua companheira 
e amiga, brinca 
junto dela.

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